Qualificar e universalizar os programas de prevenção de doenças e promoção de saúde. Essa é a meta da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) para este ano. Para tanto, a agência pretende estimular a parte mais sensível das empresas: o balanço financeiro.
A ideia é que as operadoras que tiverem programas com um padrão mínimo de qualidade, a serem avaliados pela ANS, possam transformar os custos desses programas em investimentos. Ou seja, um passivo da empresa passaria a ser um ativo. O cadastramento para essa avaliação começou no dia 2 de fevereiro e, para surpresa da ANS, já que o prazo vai até outubro, 150 operadoras já se cadastraram.
Como cada uma delas tem cerca de dois programas, em média, a ANS estima que pelo menos 300 sejam encaminhados para avaliação, o que começa a ser feito amanhã.
Espera-se que esses programas ganhem impulso com a entrada em vigor da portabilidade dos planos de saúde, em maio, quando os consumidores poderão trocar de operadora sem cumprir carência. Além disso, a ANS acredita que essa política poderá, ao longo do tempo, reduzir as filas das emergências hospitalares.
"Essa é a utopia de todo idealizador de sistema de saúde. A adoção de controles para prevenir doenças ou mantê-las estáveis é fundamental para reduzir o fluxo das emergências, onde, segundo várias pesquisas, 80% das pessoas que as procuram não deveriam estar lá. Ou seja, é preciso gerenciar o cuidado, até para que os casos que cheguem à emergência sejam depois encaminhados para tratamento e não se repitam", diz Martha Oliveira, gerente-geral de Produtos da ANS, acrescentando que a grande demanda das operadoras está relacionada a uma nova realidade de mercado.
"Muitas empresas estão incluindo no edital de licitação para contratação de planos a necessidade de programas de promoção de saúde. Acredito que isso teve um impacto nessa apresentação rápida das atividades à agência".
Efetividade das ações de prevenção deve ser vista como indicador de qualidade
Martha coordenou, em 2008, a pesquisa - divulgada em primeira mão por esta seção -, na qual se apurou que metade das operadoras mantém programas de prevenção. E antecipa que, apesar de as avaliações dos programas ainda não terem começado, já é possível perceber que vários não têm a qualidade almejada.
A gerente da ANS destaca que as empresas podem adaptar seus projetos de acordo com os parâmetros da agência até outubro:
"O fato de metade das empresas trabalhar com promoção de saúde é significativo. O problema é a qualidade e a abrangência desses projetos. Apesar de já haver bons resultados, observamos que a maioria tinha uma abrangência bastante limitada. Atualmente, quem trabalha de uma forma mais ampla atinge 10% do público-alvo com o programa de prevenção. Deviam atingir toda a carteira. As operadoras, principalmente com a portabilidade, que acirrará a concorrência, precisam entender que essa é uma ferramenta de fidelização, além de um investimento de impacto para a sociedade".
Túlio Batista Franco, coordenador do Programa de Pós-graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal Fluminense (UFF), diz que já observa no usuário dos planos de saúde um foco maior sobre esse tipo de ação:
"As pessoas estão mais atentas ao fato de a operadora oferecer uma orientação que lhes permita monitorar melhor sua saúde, assim como a possibilidade de inclusão de cuidados domiciliares. Esse será um critério forte de escolha, assim que o consumidor tiver a liberdade de trocar de planos. Em dois ou três anos, mais do que saber se a companhia tem programas a oferecer, o consumidor vai querer avaliar a efetividade, se o índice de doenças foi realmente reduzido. Esse será um indicador de qualidade para avaliação do usuário".
O acompanhamento dos resultados dos programas pelo consumidor deve começar bem antes do que Franco imagina. Pelos planos de Martha, até o fim deste ano já será possível consultar os dados no site da agência:
"Para fazer jus ao benefício, a operadora tem de apresentar um plano de ação, com as metas a serem atingidas e os profissionais responsáveis. Informar como vai ser o acesso do beneficiário, se a empresa irá procurá-lo ou se ele é que deverá se cadastrar. Os gastos serão auditados para termos certeza de que estão sendo investidos na promoção de saúde. A ideia é que esses dados sejam vistos como um critério de qualidade, auxiliando a escolha", diz Martha, que imputa a responsabilidade do sucesso do programa à operadora.
"Afinal, quem além da operadora pode saber, por exemplo, se uma determinada cliente, de 40 e poucos anos, foi ao médico, fez a mamografia ou o exame de tiróide recomendáveis? Por isso, é missão da companhia estimulá-la a tanto".
Fonte: Plurall - 17/02/09